sexta-feira, junho 01, 2007

O prometido é devido!

No último postal falei do meu entusiasmo em relação ao livro que estou a ler neste momento... Tem sido uma revelação! Muito positiva!
Aqui fica um (1º) "cheirinho"...

«[...]
- Não existem boas influências, Mr. Gray. Todas as influências são imorais, imorais de um ponto de vista científico.
- Porquê?
- Porque influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentosou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o actor de um papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmo. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são duas coisas que nos governam. E todavia...
(...)
- ... acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expressão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é uma modo de expurgação. Nada mais permanece do que lembrançade um prazer, ou o luxo de um remorso. A única coisamaneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistimos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.
[...]»
Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray

quinta-feira, maio 24, 2007

...Recomeçar...

Não tenho encontrado inspiração para escrever...
E confesso, este não é o meu "tecto"...
Mas tenho descoberto coisas belas no livro que estou a ler. Sim, estou a adorar!
Por isso, mesmo que (ainda) não deixe nenhum excerto do mesmo, aqui fica um poema de Miguel Torga que sempre me deixou "presa" às suas palavras:

«Recomeça...
Se puderes
Sem angústia E sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances...
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças...»

domingo, maio 06, 2007

Este espaço tem como objectivo a (re)descoberta de quem fui, quem sou e, mais importante, quem devo ser. Como o próprio título deste espaço enuncia, pretende-se, também, recuperar a capacidade de sentir e reconhecer as coisas belas (principalmente as mais simples).
São algumas coisas que se pensa ter perdido...
Daí a necessidade de encertar esta "procura"!

Assim, para começar, deixo-vos um poema de um Poeta muito querido que, de alguma forma, traduz a razão deste espaço:

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
Manuel Bandeira